Reportagem
na Gazeta (25/09/2012):
Saúde
animal e Saúde pública Como cidadã santa-cruzense, sinto-me no dever
de esclarecer alguns equívocos referentemente às zoonoses e à saúde
humana e, por fim, desabafar.
Não
é demais afirmar que a saúde humana está intrinsecamente ligada à
saúde animal e vice-versa. Somos todos – humanos e animais – partes
integrantes do meio ambiente.
A
concepção moderna de saúde nos remete à Lei 8.080, de 1990 que, em
sua visão abrangente, destaca, entre outros elementos, o meio ambiente
como um dos fatores determinantes e condicionantes à saúde humana.
Portanto, nessa visão moderna e ampliada de saúde, os gestores
municipais deverão incluir, em suas secretarias de Saúde, uma
política de bem-estar animal com o objetivo de combater e prevenir
zoonoses, que são doenças transmitidas ao ser humano por animais. Sem
essa diretriz legal e atual pautando a política pública, certamente o
controle de zoonoses e o descontrole populacional de cães e gatos
abandonados nas ruas não se resolverão e os problemas atingirão a
comunidade.
Historicamente,
a questão das zoonoses e a superpopulação de animais nas ruas
nasceram de ações filantrópicas de voluntários que ficavam à
mercê da boa vontade de poucos e de migalhas financeiras... Esse recuo
ao passado nos mostra que alguns abrigos particulares se transformaram,
com o passar do tempo, em um depósito sem fim de cães e gatos,
sobrevivendo com dificuldades financeiras e sem uma solução ao
problema.
A
questão, portanto, deixou de ser um pedido de esmola, passando a ser
um direito à saúde da coletividade e um dever do poder público em
garantir uma política de bem-estar animal. Em 2002, a Lei 3.963
instituiu o canil municipal em Santa Cruz.
Infelizmente,
em nada nos orgulha, pois estamos mergulhados em um serviço
retrógrado, antiético e muito longe da visão ampliada de saúde
pública e de bem-estar animal, assumida por mui- tos gestores
municipais, a exemplo de Lajeado, que castra todos os animais em seu
abrigo.
O canil
em nossa cidade comporta, no máximo, 32 cães. Esse número está
longe de atender à necessidade do município, visto que muitos lares
recolhem animais, bem como o abrigo particular São Francisco, que
atualmente se encontra superlotado, beirando 200 cães. Nosso canil
municipal só atende de segunda a sexta, das 8 às 17 horas.
Pergunto:
como uma família poderá adotar se só dispõe de tempo no final de
semana?
E,
ainda, como podem deixar esses cães completamente desassistidos e sem
um responsável durante todo o final de semana? Os cães ali nunca saem
das baias, não correm, não tomam sol, não socializam e não
brincam... Recebem, duas vezes ao dia, jatos de água de mangueira
quando limpam os dejetos. Não possuem estrados de madeira ou tapetes
para se isolarem da umidade e do frio.
E as
castrações? Não existe um critério, a exemplo da cadela Preta, de
três patas que, adotada, retornou dias depois porque estava prenhe.
Como o canil entregou a Preta sem castrá-la?
E os
gatos? O poder público desconhece que existem, pois não há um local
para atendê-los...
Campanhas
de adoção? Nunca houve em nossa cidade... Não temos, portanto, nada
do que nos orgulhar em Santa Cruz, referentemente a uma política
ética e responsável à saúde animal, que é, sem dúvida, uma
questão de saúde pública!
Clarice Paim Arnold - Professora de Direito.
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